Lixeiro que se preza vive do lixo.
O lixo é o seu dia a dia. É o seu ganha pão. O que não mata engorda. Assim como dizia, lixeiro que se preza, escolhe do lixo uma porção de coisas que ainda tem utilidade, e que podem ser transformados em mais pão, mais saúde, mais instrução.
Uma parte das coisas que recolhi na minha vida de lixeiro, vai aqui mostrada. Papeis velhos, revistas, cadernos, coisas com escritos que me pus a ouvir. Se as pessoas prestassem mais atenção no que jogam ao lixo, talvez o lixeiro não existisse. E aí eu teria outra profissão. Mas não é o que acontece.
O lixo aumenta a cada dia e lixeiro ainda será uma profissão cobiçada por muita gente, que hoje torce a cara quando passa pela gente. Se esquecem de que, sem a gente, as cidades e os cidadãos estariam mal. Também não quero que tomem isso como queixa. Longe de mim. Chegam a se esquecer de quem planta a comida! Há muitos homens que tratam a mulher de tal forma que nem parecem ter vindo de uma. Mas isso já é outra história, que fica para outras pessoas mais cultas, e que podem explicar isso melhor. E se quizerem me ajudar, escrevam e mandem para o Memória de Gari nº 2.
Ah, ia me esquecendo. Tem muita coisa no meio dessas memórias tem coisas minha. Momentos de emoção. No mais, tudo são sobra das mesas das pessoas mais letradas do que eu.
Um vez eu li, não sei onde, que não há coisa dita que não tenha sido dita antes. É o caso deste livro. São tantos os autores desconhecidos, os que inventaram as letras, as palavras, o papel, a tinta, a máquina de imprimir, os que ensinaram a usar tudo isso, que não me resta outra coisa, senão dividir a renda líquida em quatro partes iguais assim divididas:
APAE - Associação de Pais e Amigos dos excepcionais, ABBR - Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, Fundação D.Luiz e eu, José de Oliveira Luiz.
Espero que os autores fiquem satisfeitos com essa medida.
E finalmente um agradecimento às pessoas que jogaram ao lixo.
Primavera 76 Caxias do Sul,RS
